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Contabilidade on-line abre novas possibilidades de negócios

21 mai 2018 – Contabilidade / Societário

Há cerca de cinco anos, um modelo contábil ganhou notoriedade e popularidade. O serviço de contabilidade on-line, que já vem sendo oferecido por escritórios, também representa uma possibilidade de negócio para contadores que desejam empreender sem ter de investir em uma sede física e arcar com os custos atrelados a isso.As primeiras incidências de empresas de contabilidade on-line, recorda o palestrante e mentor de empresários contábeis, Roberto Dias Duarte, começou nos Estados Unidos e na Europa. Hoje, segundo o especialista, esse movimento sem volta já chegou a todo o mundo, incluindo, é claro, Brasil.

Muito comum na moda e na decoração de interiores, o modo de produção Faça você mesmo, em inglês Do it yourself (DIY), chegou a outros ramos de atividade com força e o surgimento e crescimento da contabilidade on-line é, talvez, o maior exemplo disso. Na Contabilidade Faça você mesmo, como chama Duarte, o empresário é responsável por incluir em um sistema interligado ao empresário ou profissional contábil todas as informações.

Cabe ao contribuinte saber quais os documentos necessários e preencher os dados em sistemas interligados à empresa contábil. Ao contador, cabe, resumidamente, capturar os dados preenchidos pelos próprios clientes em um portal desenvolvido pela empresa de serviços contábeis, e através de programas de transformação de dados, convertê-los em inputs para geração dos arquivos fiscais. Os serviços contábeis tradicionais, como abertura de empresas, geração de arquivos fiscais federais, estaduais, municipais, são prestados de forma remota através do meio virtual, sem contato físico com os clientes.

Os principais diferenciais deste modelo de negócio, explica a fundadora do Nucont e criadora do Movimento contabilidade sem chatice, Fernanda Rocha, são o baixo custo para o empresário e a concentração de todo o serviço e o relacionamento com o cliente através de uma plataforma na nuvem.

Entre as vantagens, diz Fernanda, está o fato de que o contador “consegue resolver de forma econômica e tecnológica a dor de um mercado que demanda da contabilidade apenas conformidades legais”. “Acredito também que a chegada desse modelo de negócio no Brasil ajudou a tirar a classe contábil inteira da sua zona de conforto, que estava há muitos anos prestando o mesmo serviço sem percepção de valor para o empresário, e buscar formas de se reinventar e se diferenciar no mercado”, complementa a contadora.

Contudo, há desvantagens. Ela reforça a imagem do contador “mal necessário”, ou seja, aquele profissional que se resume apenas à cuidar da burocracia. “Eu costumo dizer que a contabilidade on-line não é a evolução das Ciências Contábeis, porque defendo que a verdadeira contabilidade, que é a ciência que cuida da saúde das empresas, não é sobre apenas entregar guia e folha de pagamento de forma mais tecnológica e barata”, sustenta Fernanda.

Basta fazer uma busca na internet que uma infinidade de empresas são ofertadas. Porém, alguns cuidados básicos podem garantir que os contribuintes não contratem uma empresa irresponsável e tenham problemas futuramente.

O primeiro passo é verificar se a empresa é registrada, se o profissional responsável é habilitado a exercer a profissão. Em seguida, os especialistas recomendam que seja feita uma busca em sites que recebem reclamações na internet. Em terceiro lugar, é indicado que a empresa mantenha o cuidado com todas as informações prestadas, verifique se a plataforma virtual utilizada é realmente segura e preencha todos os campos com total atenção, sempre buscando estar informado sobre que dados estão sendo pedidos.

Escritórios devem definir o nicho de clientes para competir

O surgimento das contabilidades on-line a baixo custo elevou a um nível desproporcional a competição pela contratação de serviços para a entrega das obrigações ao Fisco. O desafio dos empresários contábeis e contadores deve ir além de estabelecer o preço mais baixo, diz o especialista Roberto Dias Duarte, mas estabelecer em que nicho de mercado irá atuar e quais serviços devem ser realizados para manter esses clientes.

O primeiro nível, básico, é o de conformidade legal – compliance. Neste caso, são oferecidos apenas cálculos de obrigações, de impostos e transmissão das obrigações. “Este nível faz parte do que eu chamo de oceano vermelho, onde há muita gente competindo por pouco e a disputa é baseada em preços. A automação é extrema e os serviços, impessoais”, explica Duarte.

No nível dois está o prestador de serviços que têm proposta de valor diferente e, em contrapartida, oferece a melhoria no desempenho da empresa. “Aqui, o contador aprimora custos de estoque, verifica se o fluxo de caixa está correto, realiza análises mais sofisticadas. Não basta ter automação. É importante que haja relacionamento interpessoal e inteligência criativa”, reflete o especialista.

Por último, no nível três, estão os serviços de aconselhamento estratégico, que auxiliam na tomada de decisões de longo prazo. Cobrando um valor mais alto, esse contador oferece serviços para fusões, aquisições, planejamento de longo prazo, planejamento tributário. “Este trabalho depende ainda mais de relacionamento interpessoal e de criatividade”, salienta.

Para Duarte, a competição deve se dar com as armas certas. “Não adianta querer igualar os preços, pois o escritório no modelo tradicional não conseguirá prestar um serviço de qualidade em larga escala e, consequentemente, não resistirá no médio e longo prazos”, explica o especialista.

Para Dias Duarte, a única escapatória para os pequenos empresários, localizados no nível um, para competir com a contabilidade on-line é se fortalecendo e atuando em parceria, seja prospectando em conjunto em segmentos estratégicos ou aderindo ao modelo de franquia.

A maioria dos contadores se encontra na fase em que o seu papel é auxiliar o cliente com o cumprimento de obrigações fiscais e tributárias. Este é o nível onde a robotização caminha de forma acelerada. Nele há menor aplicação da inteligência criativa e social. Duarte recorda que um estudo da Oxford University apontou que a probabilidade das atividades profissionais do contador e do auditor serem substituídas por sistemas de inteligência artificial é de 94%. Mas não são todos os contadores e auditores. Apenas aqueles que não estiverem agregando valor ao seu trabalho.

A tendência é que muitos trabalhos repetitivos e baseados em processos previsíveis se tornem obsoletos – como é o caso do lançamento de notas, emissão de guias, pagamento de impostos. Isso porque a tecnologia já é capaz de fazer essa conexão entre as informações e, em poucos segundos realizar essas tarefas. “É preciso compreender como a inovação na contabilidade pode trazer benefícios para o seu escritório. As máquinas não são capazes de substituir as habilidades intrínsecas dos seres humanos, que envolvem a comunicação, empatia e capacidade de negociação”, indica Duarte.

Formato é recomendado a organizações com poucas obrigações

A contabilidade on-line é direcionada, principalmente, para microempreendedores individuais (MEIs) e micro e pequenos empresários, que não têm tantas obrigações acessórias. Por isso, “como todo autosserviço, há pontos de vulnerabilidade. São características inerentes do autosserviço e não da contabilidade”, ressalta o especialista Roberto Dias Duarte.

O contador e conselheiro do Conselho Regional do Contabilidade (CRCRS), Paulo Roberto da Silva, lembra que o modelo foi copiado de países em que a legislação contábil e fiscal é muito mais simples do que a brasileira. “Estes países não têm o conceito de nota fiscal e sim de billing document, que é muito mais simples, nem as centenas de obrigações acessórias que são utilizadas no Brasil. O Brasil tem legislação tributária bastante complexa e, neste caso, o risco de tais operações virtuais é muito maior”, alerta Silva.

Contudo, mesmo sendo uma empresa pequena, o risco é bastante grande ao assumir a responsabilidade de repassar as informações de forma virtual. A relação é muito diferente daquela estabelecida com um profissional contábil em contato direto e mais próximo da organização.

“Pouco ou nenhum trabalho de conferência de qualidade de dados é efetuado pela empresa de serviços contábeis. A responsabilidade pela qualidade dos dados é da empresa que os digitou, ou seja, da contratante. Esta empresa contratante em geral usa a contabilidade virtual porque não tem foco, recursos, conhecimento em contabilidade e apenas digita os dados para cumprir a obrigação tributária. O risco de erros nesta operação virtual é grande”, enfatiza o especialista. Silva explica que o profissional contábil remoto, que pode estar em qualquer unidade da federação, e legalmente habilitado, assina os arquivos e um robô transmite os mesmos para o Fisco e envia os dados de volta à empresa contratante.

Basta fazer uma busca na internet que uma infinidade de empresas são ofertadas. Porém, alguns cuidados básicos podem garantir que os contribuintes não contratem uma empresa irresponsável e tenham problemas futuramente.

Segundo especialista, profissionais contábeis devem tirar proveito das novas tecnologias

Ao mesmo tempo em que preocupam, as novas tecnologias também abrem possibilidades para o exercício da profissão contábil. As novas ferramentas tecnológicas conferem agilidade ao trabalho e transformaram a forma como as pessoas e empresas se relacionam.

Na contabilidade não seria diferente. Ela precisa estar próxima, acessível e falar a língua do cliente, ressalta a fundadora do Nucont e criadora do Movimento contabilidade sem chatice, Fernanda Rocha. Para ela, o uso da tecnologia aproxima os contadores de seus clientes de duas formas bem complementares. “A primeira, permitindo que processos internos que não geram valor para o empresário possam ser automatizados. Com isso, o contador ganha mais tempo e produtividade para se dedicar ao relacionamento com o cliente. A segunda, facilitando a comunicação com o cliente, de forma a traduzir a linguagem contábil em algo que o empresário tenha mais facilidade de entender e de acompanhar os resultados da sua empresa”, descreve Fernanda.

No entanto, o especialista Roberto Dias Duarte, alerta para um lado negativo. Respaldadas pelos altos investimentos em tecnologia e marketing, algumas empresas conseguiram reunir milhares de clientes com o forte argumento de que cobrariam menos de R$ 60,00 por algo que não custaria menos de R$ 300,00 no modelo tradicional, revela Duarte. Sem conseguir igualar tais condições, muitos escritórios contábeis sofrem com a fuga de clientes e, em alguns casos, tiveram até mesmo de fechar as portas.

Porém, destaca o especialista, a contabilidade online não é a grande vilã. O pano de fundo desta competição é a transformação digital nos serviços de contabilidade e a necessidade de adaptar-se às novas dinâmicas sociais, ferramentas e obrigações. Conforme Duarte, há três níveis básicos de tipos de serviços no mercado.

Fonte: Jornal do Comércio – RS

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